quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Eu também quero um castelo

Desde criança aprendi com meus péssimos professores de História (claro, existiram excelentes professores), que os reis absolutistas só pensavam em construir castelos fantásticos. Construções para oprimir o pobre povo, a malta, a maralha, a arraia-miúda, os pés descalços, também alguns desvairados moços burgueses. Não, a burguesia não. Que burguês também explora.

Bom, mas mesmo assim, aprendi que a monarquia só serve pra isso. Nas palavras de Paulo Napoleão pra explicar esse "condicionamento ideológico":

Desde os primeiros dias da República, os autores de livros didáticos para os cursos primário e secundário obedecendo a critérios oficiosos do Ministério da Educação, passaram a estampar o retrato de Pedro II com as longas barbas e o aspecto cansado dos seus últimos anos de vida, para associar à Monarquia a imagem de velhice, decrepitude e coisa antiga. Esses mesmos livros tratavam, e ainda hoje tratam de evidenciar as glórias da proclamação da República, o heroísmo de Deodoro e o idealismo dos seus companheiros, como se tivessem participado de uma feroz batalha em prol da liberdade. Paralelamente, os livros de contos infantis invariavelmente traziam estorinhas de reis e rainhas cobertos de jóias e de rendas, cuja única preocupação, nos intervalos de bailes suntuosos e banquetes pantagruélicos, era a de mandar cortar cabeças de súditos famintos e miseráveis.

Esse típico programa oficial de natureza ideológica, implementado durante algumas décadas, surtiu eleito. Os brasileiros esqueceram a monarquia, pelo menos aparentemente. Os únicos reis que passaram a contar foram os das cartas de baralho, com coroa, jóias, golas de renda e seda, e tudo o mais que a propaganda oficial sutilmente transformara em motivo caricatural. A lembrança do regime imperial ficou quase tão distante como o Descobrimento, ao mesmo passo em que se tornava quase de bom tom fazê-lo objeto de mofa. Sem que se soubesse, mesmo, porque fazê-lo.


Bom, mas isso é apenas um detalhe. Continuei aprendendo conforme essa prática. Na França, a monarquia caiu porque era dispendiosa. Seus monarcas só construiram castelos. Realmente, Versalhes é o maior exemplo disso, é a grandiosidade e Le Roi Soleil diante dos súditos franceses. O Rei de França e Navarra (seu título oficial), precisava demonstrar sua glória.


Outros seguiram o mesmo exemplo; até um castelo que inspirou contos de fadas, foram construídos. Luís II da Baviera, mistura de doido e fresco, resolveu construir inúmeros, mas nenhum ficou mais famoso do que aquele que serviu de inspiração para o "castelinho da Cinderela", da Disney.


Bom, depois de tudo isso. A avalancha das monarquias acontece, por volta das primeiras décadas do século passado. Vem o regime libertador, a República, aquela que moralizaria o segmento político da sociedade. Estágio final da evolução.

Bom, numa república, na América do Sul, com altos indíces de desigualdade social, uma pessoa resolveu ter o seu castelo. Ora, em tempos de monarquia, somente reis e nobres poderiam fazer seus castelos. Hoje, onde somos iguais pela força da lei, podemos sim ter os nossos.

E o melhor, com dinheiro público. O dinheiro do otário contribuibnte. Criaremos a "Companhia Pública de Castelos". O Brasil será feliz. Afinal, como disse Joãozinhob Trinta, "quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo".


Como vemos na foto, ele é fantástico! E ainda tem o que a maioria dos brasileiros desejam ter em casa: PISCINA!

Por isso que digo, também quero o meu castelo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário